quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Série Grandes Contos Verídicos - parte 2 - VP Girls

23:05 agora. Acabei de pegar um ônibus da Vila Prudente pra cá. A VP é no leste próximo, uma espécie de Oriente Médio de São Paulo. Em geral o lugar é zuado, mas a essa hora da noite, durante a semana, fica um ar de abandono que dá um estranho charme às cercanias.
Subiu um casal. A garota tinha uma saia de um tecido leve na altura do joelho, com umas flores estampadas perto da barra, flores só de contorno, bonitas; camisa branca, cabelo levemente avermelhado, levemente encaracolado também; vou falar: a discussão técnica seria polêmica, mas pra mim tava uma gacta. O sujeito não tinha graça alguma, típico jovem de boné.
Não nego que tenha reservas quanto a garotas da VP, continuo tendo, mas peguei lá aqueles minutos e passei a fantasiar que ela fosse uma figura encantadora, cheia de interesses profundos, um espírito complexo com vontade de expansão e ferozmente oprimido pela lógica de comerciante de automóvel que impera na região. Opressão sobre a qual ela já desenvolveu um cinismo que consegue ser raivoso ao mesmo tempo que é leve, destilado em pequenas frases perdidas em todo o resto que ela diz com um sorriso do tipo que sabe.
Desceram logo. Antes do viaduto. Ainda na VP. De repente reparei que discutiam de forma braba. O sujeito de boné colocava até o dedo na cara dela, que por seu lado também não amenizava.
Ninguém mais no ônibus. Noite bonita pacas. Bairro quase deserto.